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sexta-feira, 8 de abril de 2011

Reflita sobre o episódio, mas não reflita seu preconceito.

Pensei em escrever algo sobre o acontecido, mas o texto de Ayala Gurgel sintetiza o que muitos gostariam ou teriam para falar nesse momento.

Porém um tema em específico que muitos nem ousarão fazer, devido a repulsa, a indignação da brutalidade que foi o crime, o que vou tratar aqui é no “se colocar no lugar de Wellington (autor dos disparos que matou tantas crianças).”

Sem dúvida o crime foi cruel, choca a todos, buscamos explicações do porquê, queremos apontar culpados, ridicularizar, humilhar e acabar com o assassino de forma a nos distanciarmos cada vez mais desse tipo de figura, talvez buscando esconder nossa incapacidade de enfrentar a realidade, nos desresponsabilizar pela nossa culpa.

Mas que culpa uma pessoa que mora longe, que nem mesmo conhece nenhum dos envolvidos, muito menos o autor do crime, poderia ter? Talvez a culpa de muitos não esteja relacionada no Wellington Menezes de Oliveira, mas a tantos Wellingtons, Robertos, Joãos, Marias, elisas que passamos pelo mundo e nos esquecemos de dar um olhar, estende rum braço.

Muitos doentes mentais, sejam eles com depressão psicopatia, esquizofrenia, não pedem dinheiro, juras de amor como ajuda, querem apenas atenção, um abraço, um olhar amigo, uma mão estendida não para oferecer emprego, mas para terem segurança de que não estão sozinhos.

Somente quem passa pela complexidade da doença mental saberá entender o que é chegar em casa, ou no trabalho, encontrar uma pessoa na rua achar que é amiga e essa mesma pessoa não perguntar “como vai você”, um “vamos conversar”, “me conta da sua vida”. Ao contrário se ouve: “ ainda enterrado no computador?”, “ainda fazendo nada?”.

Uma simples pergunta pode ser pior que um tiro a queima roupa que mata. Pois um tiro mata, mas a dor da exclusão, do isolamento, da crítica. Mas ainda assim pode vir um infeliz, que se acha normal e dizer: “ora mas a pessoa só se isola quando quer.”

Realmente se isola quando quer! Quando quer manter distância do sofrimento que lhe causa através de deboches, das próprias criticas diretas, da falta de amor, da falta de humanidade... Ou será que alguém gosta de ser ridicularizado, de ser desmentido, desvalorizado, discriminado?

Da mesma forma que uma pessoa “dita normal”, capaz de julgar o outro, se defende jogando a culpa do isolamento ao outro. Esse outro pode se defender do preconceito, da discriminação, das críticas das várias maneiras, não só se isolando... talvez praticando crimes, que no entender dele é no mesmo nível da violência que ele recebeu um dia também.

E aqui nem vale desculpar-se dizendo que foi invenção da cabeça dele, que a pessoa fantasiou criticas, deboches, discriminação, etc. Isto é desculpa de incapazes de lutar com a doença mental e com a pessoa portadora da mesma. É medo!

Digo isso não tentando diminuir a culpa de Wellington. Absolutamente! Digo com propriedade de causa, de alguém que teve um diagnostico psiquiátrico, sofreu preconceito, cometeu muitos erros tentando revidar o preconceito, mas que buscou um tratamento, e foi capaz de reconhecer cada erro, e tentar reverte-los. Escrevo hoje, com propriedade de quem já trancou não só a porta do quarto, mas da vida, pois já que não tinha uma palavra amiga ao lado, uma mão segurando a minha, era melhor o isolamento do que críticas, falsas motivações dizendo que eu era linda, ou tentativas de me ridicularizarem para ver se eu “Caía na real”. Na real eu já estava, eu simplesmente significava a realidade da incapacidades de TODOS à minha volta de lidarem comigo – família, amigos, profissionais, vizinhos. Eu me tornei por muito tempo tradução do egoísmo de cada um. (um dia explico mais sobre isto).

Não quero chocar a ninguém, apenas tentei alertar todas as pessoas que não utilizou o episódio para refletir sua própria postura. Será que você não está criando uma pessoa com o mesmo adjetivo que utilizou para classificar Wellington? Pense nisso.

p.s: Nem ouse dizer que estou em mais um surto, nunca estive tão bem, e não sou só eu que acho!

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