Esta semana fui surpreendida com uma pergunta um tanto inusitada: Por que não dediquei meu livro à minha família?
A pessoa imaginou que fosse algum esquecimento, ou não cair na mesmice de todos os autores dedicar o livro à família, pela compreensão da ausência, apoio, etc.
Bom minha família ( aqui vou me referir em especial pai, mãe e irmã) sempre me respeitou nas minhas decisões, porém nunca compreenderam eu me ausentar das reuniões familiares, das horas de refeições para ficar lendo ou estudando. Assim como jamais compreenderam, entenderam e acham certo todas as horas “perdidas” (para eles) na frente de um computador. São pessoas que não gostam de ler, não ligam para livro.
Nesse contexto como dedicar um livro a quem não gosta e nem me apoiaram? Seria no mínimo deboche da minha parte. Ao contrário da minha monografia de graduação, que foi a gêneses do livro, e devidamente dedicada a todos os envolvidos, inclusive minha família, que me ajudou financeiramente durante minha faculdade. Somente financeiramente, pois jamais souberam período que eu estava, quando tinha aula, ou quando não tinha, notas, absolutamente nada. Não os culpo por isso, por um lado foi muito bom, não fiquei presa a cobranças ou muletas, ou com a espada apontada para a garganta tendo que recompensar todo o gasto e preocupação.
Explicado o motivo pelo qual não dediquei meu livro à minha família, eu e a pessoa fizemos uma reflexão sobre dedicação. Ai foi minha vez de me perguntar: você sabe se dedicar? A resposta é não.
Ora, se eu não sei dedicar, como vou falar sobre o assunto? Simples, eu não sei executar a dedicação, mas sei o motivo disto acontecer.
É como a história supracitada: eu poderia ter dedicado o livro à minha família sob o escopo deles terem me dado a vida, me educado, me sustentado, mas tomei como principio um fato isolado. Assim deve ser a decisão de dedicação, em fatos isolados, e não como gratidão, ou cumprimento social. E isto vale para a dedicação a trabalho, lazer, descanso.
A dedicação que desenvolvemos, qualquer que seja ela pra alguém ou alguma coisa, pode traduzir alguns comportamentos nossos: a dedicação bem “dosada”, demonstra um equilíbrio emocional nosso; Já a dedicação exacerbada pode significar medo, ansiedade; a ausência de dedicação traduz um quadro de desmotivação, ou de indecisão, de frustração.
Suponhamos uma pessoa que exacerba na dedicação ao trabalho, justifica isto como sendo a busca do sucesso da realização profissional e financeira. Mas por outro lado esquece-se da vida social, pessoal, ou quando não esquece, faz da vida social e pessoa degrau para a profissional. Esta dedicação profissional pode mascarar uma carência afetiva, por exemplo.
Ainda há situações que a pessoa se dedica a várias coisas ao mesmo tempo, podendo falhar, ou ficar a desejar em algum resultado de uma ou várias atividades. Ou então de se dedicar em períodos curtos de tempo a coisas diferentes, e deixar as atividades anteriores inacabadas, em aberto. Esta situação pode traduzir um período de auto-desconhecimento, de indecisão, um não querer assumir a realidade (o que falta, o que entristece, os próprios defeitos e fraquezas).
Enfim a dedicação é algo pontual, específico e não amplo, tem seu objetivo que é pessoal a quem se dedica, e não a quem é dedicado. Ou seja, a dedicação é algo meio egoísta, mas que pode render frutos ao outro.
Então antes de achar que dedica-se demais ou de menos a alguém ou alguma coisa, avalie a si mesmo, pois a dedicação pode não ser um vício, mas um anestésico para a circunstância vivida, em outras palavras, uma fuga!
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