Páginas

Pesquisar este blog

quinta-feira, 11 de março de 2010

Meu lattes é vira lata

Em épocas remotas algumas pessoas detinham conhecimentos, saberes, que auxiliavam na atenção às necessidades da sociedade. Essas pessoas eram respeitadas, reverenciadas por tal saber, e necessárias. Seu conhecimento era passado de pai para filho, ou para outra pessoa por vocação. Algumas tribos indígenas ainda permanecem com este costume.

No entanto a sociedade cresceu e evoluiu,logicamente as necessidades da mesma também aumentaram, precisando assim ter mais pessoas com determinados conhecimentos para atender a nova demanda. Assim criaram-se ágoras, escolas, universidades para formarem novos conhecedores, difundindo o conhecimento, porém a prática diária desse saber ainda assim era imprescindível.

Com a evolução o conhecimento deixou de ser vitalício ou por vocação e passou a ser comercializado, isto significa dizer que o valor da responsabilidade social passou a ser comercializado. Os sábios, conhecedores, detentores de algum conhecimento passaram então a ser chamado de profissional, alguém em pró de alguma função.

Apesar da mudança o discurso sobre formação continuou ser o mesmo: atender às necessidades sociais. Porém é uma tender de forma mais egoístas: atender ás próprias necessidades, a atenção a necessidade do outro é mera conseqüência.

Isto significa dizer que as responsabilidades não estão mais atreladas ao conhecimento em si, ao desenvolvimento prático de alguma habilidade, mas a atender a uma necessidade de mercado.

Assim a obrigatoriedade do conhecimento adquirido no dia-a-dia deixou de ser obrigatório, abrindo espaço para o conhecimento teórico. Não importa que uma pessoa tenha habilidade para determinada atividade, se ela não tiver um conhecimento teórico específico, de nada a adianta, pois essa pessoa é tida como inapta para a sociedade atual.

Essa mudança encerra também a concorrência, a busca incessante de ser o melhor, afinal atende melhor ao mercado aquele que tiver mais conhecimento ( teórico), e não aquele que tenha habilidade. Assim a prática deixa de ser uma exigência e a comprovação do conhecimento passa a ser por meio de papel – certificados, diploma, publicações.

Com a amplitude que a sociedade adquiriu, é impossível agora saber quem detém qual conhecimento, somente através de documentos é possível. Ao passo que antes o conhecimento era algo mais amplo, mais genérico, a evolução exigiu restrição cada vez maior do conhecimento, hoje existe já médico de mão!!! Assim a necessidade da especialidade, surge a partir da necessidade social, frente ao seu alto grau de desenvolvimento.

O acesso ao conhecimento foi facilitado, porém a diversidade de opções de atividades e a criatividade favoreceram a uma atividade - ilegal – mas comum, que cresce a medida que a concorrência aumenta também, a difusão do conhecimento não é suficiente, pois há demora para o retorno social a si mesmo. Assim há busca incessante não de conhecimento, mas de comprovação do mesmo.

Para divulgar quem tem qual conhecimento, criaram bancos de dados, inclusive eletrônicos. No Brasil, existe um banco de dados eletrônicos, controlado por um órgão nacional. Assim quanto mais “recheado”, preenchido o formulário desse recurso eletrônico, que é individual, melhor qualificado é esse profissional. Assim deter um conhecimento, ter habilidade para tal é menos importante do que comprovar teoricamente que o tem.

Muitas empresas, ou outros órgãos que contratam profissionais, tentam minimizar possíveis fraudes de comprovantes de conhecimento através de prova, porém nos editais de concursos e seleção tem de haver orientação de literatura, especificando exatamente o que irá ser cobrado na seleção, que geralmente está relacionada à função que precisa Sr desenvolvida.

Escandalizo-me ao ver pessoas que brincaram a faculdade inteira ou aqueles que puxaram “saco” de professor pra adquirir um certificado, ou ainda aqueles que compraram uma monografia, dando aula em universidades. Formando profissionais que vão atender as “novas” necessidades sociais.

Não tenho vergonha de ter meu lattes magrinho como um cachorro vira-lata. Tão pouca ser recusada numa proposta de emprego, só porque não comprovo – em papel – que sou apta para a função.

Porém tenho muita vergonha de dizer que sou algo que eu não seja, dizer que fiz algo que não fui eu que fiz, ou ainda finge que ensina alguma coisa, quando na verdade apenas massageia o próprio ego.

Pois ser ético pra mim não consiste em representar para a sociedade, mas ser verdadeiro para a própria consciência.

Nenhum comentário: