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segunda-feira, 16 de março de 2009

O tecido da doença mental

Em outro texto falei da necessidade de formarmos eqüiláteros na mente, o equilíbrio entre emoção e razão como base fundamental para viver bem, haja vista que esse equilíbrio permite-nos criar subsídios para as demais necessidades da vida (alimentação, trabalho, moradia, etc.).

Se pensarmos dentro do panorama da doença mental podemos arriscar que a doença mental ( veja que aqui trato de doença e não deficiência mental), poderemos cair no erro de dizer que a mesma é o extremo de uma dessas vertentes: emoção x razão.

A doença mental, acredito eu, não é o extremo de uma das duas composições da mente, mas de apenas uma: a emoção. Alguns podem se assustar, mas a esquizofrenia deixa isso bem claro, a sensibilidade se exacerba, há uma ausência de condições reais as quais podem se apegar. Como muitos dizem: “vive em outro mundo”, o mundo da emoção apenas, livre de qualquer razão. Nesse caso impossível tecer alguma coisa, há apenas fios, que no máximo podem ser trabalhados – colados paralelamente ou enrolados, cruzados, mas jamais entrelaçados à razão.

Neste tecido composto apenas pela emoção, as pessoas se tornam fragilizadas, marginalizadas, algumas vivem à margem da sociedade. Tornam-se dependentes em termos racionais de outra pessoa, sendo indiferente a esta, ou atribuindo a esta os acertos da vida (talvez seja o caso do ciúme patológico).

No entanto, o emocionalismo ( viver apenas de emoção, e não o emocionalismo teológico) pode ser mascarado com uma certa dose de racionalidade, que na verdade não é a expressão da razão, mas da mais pura sensibilidade que muitos tentam explicar pela razão. Exemplos dessa situação são as expressões de arte, tais como pintura, artesanato, esculturas, dentre outras.

Outro equívoco que se pode cometer é dizer que a depressão é a tradução da razão frente a ausência de emoção. A depressão se refere à ausência de sentimentos, que causa um sofrimento, e não é a ausência de emoção, fazendo com que a razão leve a pessoa a cair na real, e assim gerando um sofrimento frente à descoberta da realidade.

Da mesma forma acontece com o transtorno bipolar não existe crise fora do emocionalismo, assim como o racional não é nulo, porém em uma parte bem pequena, quase insignificante, e é justamente esta parte que dá o teor de inteligência, que no meio de tanta emoção se sobressaem, colaborando na falsa imagem de que bipolares são mais inteligentes. Podem ser sim, mais sensíveis, terem maior percepção, e por trabalharem mais a mente buscando respostas, saídas, etc. acabam desenvolvendo um lado de raciocínio lógico.

Reforço aqui que as expressões artísticas não se ligam propriamente dito ao racional humano. Assim como a mania, que se refere ao lado de apego propriamente dito, de compensar um sentimento por outro, uma sensação por outra, e não uma busca incessante de não ficar em depressão, traduzindo-se em reação da razão.

Nesse patamar é importante destacar que o tratamento não deve se basear apenas em equilíbrio orgânico, através de medicação, mas o resgate da racionalidade, por mais efêmera que ela seja, e quando há ausência desta ( pelo menos em suposição) deve-se criar canais de equilíbrio entre as próprias emoções.

Complicado? Muito, pois emoção e razão não são mensuráveis, não são palpáveis, concretas, apenas observáveis em falas, atos, costumes, etc.


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