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sábado, 29 de dezembro de 2007

enfermagem, eis os equívocos

Nos meus relatórios finais de estágio na graduação de enfermagem que fiz, sempre havia algo diferente dos demais relatórios: os dos meus colegas priorizavam análises de atividades desenvolvidas pelos funcionários diretamente ao paciente e nos meus questões administrativas.

Enquanto meus colegas enfatizavam falhas em não comunicar o paciente sobre a medicação administrada, eu me preocupava com pedaços de esparadrapo colados em mesinhas de cabeceiras, suporte de soro e no leito.

Além do aspecto negativo, dando impressão de hospital sujo, fiz um recolhimento de todos os pedaços e juntando os mesmos dava mais de um rolo de esparadrapo, isso em uma semana. Fiz o teste, retirei todos os pedaços de esparadrapo, deixando tudo “limpo”. Na semana seguinte recolhi os pedaços que encontrava, os “novos” pedaços deixados.

Achava péssimo um quadro no meio do corredor, próximo ao posto de enfermagem, em que dizia o nome do paciente, leito e patologia. Ali estampado na parede para qualquer um ler. Toda vez que eu passava por ele me questionava sobre a privacidade que cada paciente tem direito.

Dizer que um funcionário não estava preparando uma medicação corretamente, ou que ao aspirar um medicamento de uma ampola não segurava esta corretamente, não me bastava. Ora se ele está aspirando a medicação e segurando a ampola de forma a não contaminar o conteúdo, dane-se a técnica correta. O importante é não contaminar e ter mais comodismo e agilidade em fazer.

Também não me importava em funcionários que não dizia o que estava ministrando ao paciente. De que adianta dizer ao paciente que está aplicando vancomicina se não vai dizer pra que, princípio ativo, mecanismo de ação? Não vai dizer por questão de tempo e até conhecimento. Então melhor dizer apenas que é hora do remedinho.

Algumas coisas nos meus colegas me incomodava. Hoje sei que eu incomodava muito mais a eles do que eles a mim. Era uma questão apenas de não me acomodar aos iguais, eu tinha uma visão diferente da enfermagem. Como ainda tenho hoje.

Enfermeiros são cuidadores, não apenas de seres humanos, mas das instituições que cuidam dos seres humanos, dos funcionários destas instituições, da sociedade dessas instituições e assim por diante.

E meus colegas eram e são bitolados na assistência. Perdem-se em estudos sobre os melhores produtos para um curativo e esquecem de pesquisarem as condições das instituições, se têm condições ou não de adquirir tal produto.

Gastam tempo fazendo um preventivo numa mulher num PSF e esquecem de verificar o número de mulheres da cidade, e o número delas que já fez o preventivo no ano corrente.

Enfermeiros estão perdidos na dicotomia fazer e saber. Acredito que a sombra da capacitação de auxiliares e técnicos, aumentando suas escolaridades, está deixando enfermeiros a quererem alçar patamares mais altos, até mesmo fora de sua realidade. Se continuar do jeito que está enfermeiro querendo fazer pré-natal, partos, preventivos, consultas e prescrevendo medicações ( mesmo obedecendo a protocolos) brevemente se tornarão médicos auxiliares, auxiliares de médicos.

Por isso sou a favor do ato médico. Enfermeiros tem mais que pensar, que fazer, que cuidar n]ao só de pacientes. Enfermeiros tem uma gama de atividades que se abrirem mãos delas, certamente a saúde entrará num colapso maior que o caos que vive.

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