Hoje estava no hospital acompanhando minha
mãe, quando alguns acadêmicos de enfermagem
chegaram ao quarto convidando pacientes e acompanhantes para assistir a
uma palestra....
Identificaram-se, falaram que era uma
palestra de saúde mental... Fiquei tentada, e
mesmo contrariando minha mãe eu fui. O receio de minha mãe não era ficar
sozinha alguns poucos minutos (quase uma
hora), mas do que eu poderia falar no ambiente. Prometi ficar calada. Não fiquei,
mas não falei nada demais, apenas meu nome, quem acompanhava, e quase no final
o que eu fazia.
Sempre gosto de ver essas apresentações de
acadêmicos, embora sejam bem parecidas, com mensagens (vídeos, frases,
cartazes) motivadoras, dinâmicas já conhecidas, e a tensão de apresentação na
frente do professor. Mas são sempre apresentações que me remete a alguma
reflexão, sempre auto reflexão.
E dessa vez minha auto reflexão foram com
relação aos meus valores. Ao que penso de saúde mental. Reafirmei que
enfermagem não é criar um mundo cor de rosa para cuidar, mas cuidar na
gratuidade. Embora muitos discursos
rondem essa esfera, poucas ações são feitas no sentido, e na palestra ficou
claro, principalmente quando se
perguntava: o que você faz para enfrentar seus medos e anseios?
O enfrentamento do medo não passa apenas pela
mudança de foco, ao contrário, a mudança de foco só deve acontecer quando se
enfrenta propriamente dito o medo. E criar alternativas de enfrentamento,
mudança de foco do medo para outra coisa, nada mais é do que criar um mundo cor
de rosa para o cuidar.
Temos a mania de criar fugas diante do desconhecido,
do medo, , e muitas vezes a fuga é o ataque, e as vezes sem conhecimento. Por isso
é importante conhecermos a raiz do medo, dos problemas e atuar nela.
Nesta palestra o professor que estava
como preceptor de estudantes que faziam
tal dinâmica teve essa postura: propor pontos de fuga, não só no discurso como
na postura, realçando as fugas ditas pelos presentes, e sequer trabalhando o enfrentamento de frente, as causas, ou pelo
menos propondo isto. O que ficou claro, quando ele sentou-se ao meu lado ao
final para assistir a um vídeo e disse apenas: “quem diria você aqui”.
Um sorriso foi o suficiente para responder.
Após dizer isso, ele se levantou e sentou-se do outro lado, ele me conhecia e
sabia muito bem quem eu era. Pensei será que ele sentiu-se afrontado com minha presença
ali? E ter respondido a uma dinâmica estar satisfeita por estar ali como
acompanhante, enfermeira da área de saúde mental e escritora da área.
Quem trabalha nessa área deve estar aberto a
tudo, nada é irrelevante, tudo é importante.
Os acadêmicos deixaram de se preocupar com a presença do professor, e
passaram a se preocupar com a presença de uma escritora, que aprendia ali com
eles. Sim! Aprendia com eles, cada experiência trocada é u novo aprendizado.
Os discursos prontos (à La Padre Fábio de
Melo) não convencem a alguns, mas servem para orientar, guiar ações, e talvez
meu silêncio ali poderia direcionar algo: será que profissionais de saúde estão
mais preparados, habilitados para enfrentar os anseios dos leigos do que de
profissionais? Será que não intriga como
é o grau de enfrentamento de um profissional que está na condição de
acompanhante e paciente? Tem medos, como os enfrenta?
Mas sempre há salvação no mundo... Depois de
algumas horas ao ir à cantina, já no horário de visitas deixando minha mãe bem acompanhada
de familiares, e sentada tomando um suco, uma das acadêmicas me abordou
educadamente intrigada como eu enfrentava a situação que eu passava: “enfermeira
enquanto acompanhante de mãe.”
Como eu enfrentava a ansiedade, o medo, pois
eu tinha noção de tudo o que acontecia, se estavam fazendo algo errado ou não,
técnicas, etc. Eu respondi dizendo: com
dois Rivotril de 2 mg diariamente. Ela com carinha de admiração perguntou se eu
já havia tentado algo mais suave... Eu
disse que sim, Rivotril de 0,25mg sublingual...
A pergunta que se seguiu tinha um tom de
indignação: “Você não se apega a Deus, ou conversa com alguém?”
- À Deus eu já sou apegada sempre, não
preciso recorrer para pedir socorro quando preciso, ele sabe, pois conversamos
sempre, e através de cada pessoa que troco palavras, como com você agora. O
amor de Deus é humano!
Devemos ter o cuidado de não quantificarmos e
tão pouco qualificarmos de forma genérica as reações humanas de enfrentamento,
Algumas podem ser até semelhantes, idênticas,
mas as exceções existem também, e não podem ser excluídas ou esquecidas.
O maior Deus não é o que está no céu, mas aquele que está dentro de você. A maior crença, não é aquela que puxa multidões, mas aquela que está dentro de você,. A maior fé não é aquela que move montanhas, mas aquela que te faz acreditar que você pode movê-las. Assim não se busca Deus lá fora, mas dentro de si, milagres não acontecem sem a sua própria ajuda!
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