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segunda-feira, 31 de maio de 2010

Na areia construímos castelos, mas no sentimento admiração




Todos os dias aquela moça era vista, sentada no calçadão, à beira mar, abraçando os joelhos, e olhando ao longe. Praia cheia ou vazia lá estava ela. As vezes passava uma pessoa lhe dizia olá, outra puxava um assunto e logo saía.

Mas dentre essas pessoas havia aquelas que estavam ali todos os dias também, as vezes caminhando, outras pegando sol, outras jogando cartas. E quando se aproximavam dela, e ela reclamava que nada tinha a fazer. Incentivavam-na fazer algo. Ela então se levantava, ia até a areia e começava construir um castelo de areia, fazia caminhos, bosques, levava horas, dias, e ali direto, construindo sua arte em areia.

Porém logo vinha um vento, ou um bola, ou uma pessoa inconseqüente e desmanchava o seu castelo de areia. Então a moça voltava ao banco, abraçava os joelhos e continuava ali. O dia passava e ela ali, via pessoas indo e voltando do trabalho, pessoas que ali trabalhavam, pessoas que iam fazer um happy hour ali. Conversava com todos.

Às vezes aparecia algum novato e se encantavam com ela. Eles começavam a conversar, e quando ela contava de seus castelos de areia, que era o que fazia ali, eles simplesmente passavam a dar oi, ou nem passavam mais por ali. Iam para outras praias, que quando ela decidia ver as demais os viam por lá.

Certa vez uma pessoa disse para ela que o vento desmanchava os castelos por que a areia era seca demais, e assim ficava fácil desfazer a arte. Ofereceu-lhe ajuda para construir um novo castelo. Ela estava desanimada, sabia que iam ser destruídos. Mas acreditou naquele estranho. Ele então lhe disse para fazer mais próximo ao mar, a areia lá é mais úmida e assim se adere mais, difícil o vento levar, e no dia-a-dia, depois do castelo pronto ele a ajudaria manter aquela construção, e se desmanchasse alguma parte, eles estariam juntos para reconstruí-la.

E assim fizeram o castelo. Um dia ao chegar pela manhã o rapaz não estava, mas ela continuou o trabalho, a noite ele apareceu e fizeram mais um pouco. Durante a construção ele trazia areia ela ia moldando, as vezes ele tentava moldar e ela não gostava, se enfurecia. Mas no final ele deixava passar.

Os dias se passaram e o rapaz não mais a ajudava, apenas aparecia e a observava construir sozinha, apenas trocava poucas palavras. Mas só faltavam alguns pequenos detalhes mesmo, que ela nem se importava. Acreditava que o olhar dele era mesmo de admiração, dela ter conseguido mais uma vez erguer um castelo.

No entanto, ao final de tudo, quando os dois poderiam sentar-se atrás do castelo e admirá-lo veio uma forte onda e destruiu todo o castelo. Ela olhou em volta, e o rapaz não estava, logo ele que prometera ajuda, e agora.

Seu desespero veio a tona, ela segurava areia molhada nas mãos e chorava. Não sairia dali como alguns amantes fazendo guerra de areia e rindo do tempo gasto, abraçando-se, segurando as mãos e se jogando ao mar para tirar toda a areia de seus corpos.

Ao invés disso, passavam por ela pessoas a criticando, dizendo que ela fora incapaz de construir algo, prendeu uma pessoa ali numa besteira, outras a criticavam por ter construído aquele castelo tão perto do mar.

Ela chorara, não via a mão amiga, ninguém para ajudá-la a levantar. Apenas chorava e olhava sua bolsa a poucos metros com a máquina fotográfica para registrar aquele momento.
As lágrimas secaram, a moça se levantou sozinha, e foi caminha em direção ao mar indo cada vez mais fundo, até desaparecer num mergulho. Algumas pessoas conhecidas a observaram de longe, e acreditaram que ela conseguira sozinha ir até ao mar se limpar de toda areia que estava em seu corpo.

Porém ela jamais emergiu, e há quem diga que ela tem fôlego, só está a espera de quem possa ir até lá, enfrentar as águas geladas da estação, segurar sua mão e retira-la de dentro da água, quem sabe agora não para construir castelos, mas para admirar a beleza do sol ou o brilho das estrelas.

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