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segunda-feira, 1 de junho de 2009

Hipocrisia falarmos de qualidade x produção?

Recebi um comentário muito interessante, no qual o autor do mesmo diz acreditar ser hipocrisia falar de humanização, qualidade e produção.

Bem concordo com a opinião dele do prisma exterior ao sistema, de não pesquisadora e apenas profissional da saúde. Mas seria hipócrita se eu não usasse meus conhecimentos, experiências e pesquisas para afirmar tal fato.

Todo e qualquer trabalho, exceto os voluntariados, é baseado em produção, e nem por isso é feito com falta de qualidade. Vejamos uma fábrica de roupas de alguma grife famosa: ela produz, com qualidade e seus funcionários são cobrados por produção sim, nem por isso a qualidade é esquecida.

O mesmo acontece na enfermagem, conversar com o paciente não é humanizar é das funções do profissional, é ético, e é produção. De uma conversa pode-se tirar tanto informações para o projeto terapêutico do mesmo, quanto informações do meio.

Vejamos um exemplo prático: O Programa Saúde da Família. É essencialmente pautado em produção, se você estipular um número menor de atendimento do que se espera, não é nenhum crime, e mesmo que no início você sofra pressão, é preciso confirmar posteriormente os resultados positivos dessa prática.

Lembro aqui quando cheguei a um PSF para atuar como gerente. Da proposta só havia na verdade agentes comunitários. Institui horários, consultas agendadas, montei os grupos de atenção a saúde. A população reclamou inicialmente, a secretaria de saúde pedia soluções, que começaram a aparecer com dois meses. Nãos e gastava tanto com medicações, pois tínhamos o controle da necessidade da população, a conversa de uma hora com adolescentes se descobriu o consumo de drogas, inclusive utilização de seringa retirada do lixão local. Isso fez com que programássemos ações voltadas para as drogas, incluindo em produção e melhorando a qualidade da assistência. As ações foram desde ações individualizadas até ações a nível ecológico e de gestão de resíduos do serviço de saúde.

Assim posso ousar dizer que a produção é conseqüência da implementação correta dos conhecimentos, da ética e demais aparatos que nos levam a qualidade. Seria até incoerente falarmos de qualidade se não há produção, a qualidade é um adjetivo vindo obrigatoriamente de algo produzido, e a humanização a utilização dos conhecimentos adquiridos para o cuidar, no caso do texto anterior coloquei como ilógico falar em humanização, se as mudanças que tiveram não foi desconsiderar o homem como tal e lidar com ele como animal, ou objeto.

Os profissionais se perderam nesse meio de definições de qualidade, produção, aliado às mudanças no sistema de saúde, que até hoje são mal interpretados e desenvolvidos pelos profissionais. Aqui cabe destacar a questão do ensino, da consciência de cada profissional, e assim como as ações de cada um.

A culpa do sistema é bem inferior a nossa própria culpa, a pressão que sentimos deste é apenas a tradução da importação de conhecimentos, de modelos, sem a mínima adaptação para a nossa realidade (eis aí a Reforma Psiquiátrica que não nos deixa mentir), frente ao que aprendemos. Sendo assim o profissional que fica estagnado em reproduzir conhecimentos de manuais, sem pensar e cogitar alternativas e “saberes” ficará eternamente sob pressão.

Um comentário:

Sérgio Araújo disse...

Olé Lilian,

Obrigado por acompanhar meu blog. Suas preocupações profissionais demonstram uma pessoa competente e sensível.
Fique sabendo que estarei acompanhando o seu labor literário.

Abraços

Sérgio.