Páginas

Pesquisar este blog

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

SER ou TER



Oito anos, o que são oito anos? Dois mandatos de políticos? o tempo necessário para uma criança que acaba de nascer começar a andar, falar, ler e escrever?

Isso tudo e mais um monte de coisa, por exemplo, estudar e experimentar o gosto, muitas vezes amargo dos transtornos mentais.

Tempo suficiente para peregrinar de médico em médico, buscando a tão escondida empatia. Mas foram anos que pude aprender muito, a ter experiência em várias situações: preconceito, exclusão, isolamento, deboches, de falta de respeito. Porém tive ótimos momentos como conhecer a mim mesmo, refletir muito mais, e principalmente aprender a diferença do SER e do TER.

Quando se diz eu TENHO uma doença, você toma pra si uma condição, quer você aceite ou não. Ter algo não quer dizer que você vai ter sempre. Em termos de transtornos mentais, ter um transtorno não quer dizer que você vá conviver com instabilidades continuamente, ou crises. Quer dizer que você tem que se tratar, e caso esteja em um período de instabilidade é hora de parar e falar com o médico, talvez seja hora de dar aquela mexidinha na medicação, pois as medicações são pra isso: ESTABILIZAR e não curar.

Agora quando se passa da condição de TER algum transtorno e passamos a falar que É um transtorno. Estamos nos colocando no lugar de uma doença. OU seja, nos substituindo, nos anulando. Isto aos olhos de muitos profissionais, ou até outras pessoas não ligadas à causa, pode parecer como um desculpismo. E numa hora mais conveniente a quem diz que é depressivo, é um bipolar, é um esquizofrênico, é uma histérica, é um neurótico, etc. sai à própria personalidade, responsabilidade e entra em ação apenas a doença para justificar atos.

Dizer que é isso ou aquilo ( transtorno mentais) não é assumir ou aceitar a doença, pelo contrário, não é assumir-se doente, é se fazer de doente, ou melhor, a própria doença, o próprio problema. Não somos problema, estamos com um problema, que poderia ser no pé, nos rins, no coração, mas o nosso é na mente.

E muitos não vêem as nossas dores, e fica complicado de entender isso. Cada vez que falamos sou este ou aquele transtorno nos colocamos no papel de vítimas, e quem quiser pode interpretar isso como desculpa para qualquer comportamento inadequado. Fazendo isso estamos nos colocando no papel de platéia da própria vida: assistindo a nossa vida e não a encenando.

Também não acredito que devamos ser atores de nossa vida, aceitando o papel que querem nos impor, ou apenas dirigindo as situações que nos aparece, devemos ser autores, escrever as nossas próprias histórias e contornar os imprevistos ( no caso de teatro da vida real, seria a doença, a morte, a saída de um ator, mas para a gente são os momentos de instabilidade).

E então você quer SER um doente, favorecendo ainda mais o estigma da doença mental de incapaz, de vítima, de tumultuador, de marginalizado, de perigoso, violento. OU quer TER um transtorno e mostrar a sociedade que a doença mental não é invalidante ( pode ser incapacitante para algumas atividades), que somos capazes de manter uma vida normal....

A escolha é só sua, ou melhor, de cada um de nós.

Nenhum comentário: