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sábado, 19 de janeiro de 2008

Resenha QUANDO NIETZSCHE CHOROU




O filme é baseado no livro homônimo de Irvin D. Yalom. O filme traz uma aproximação, fictícia, entre o médico Joseph Breuer (professor e mentor de Freud) e Friedrich Nietzche. O encontro dois se dá através de uma mulher pela qual Nietzsche se apaixonou, mas que esta só se apaixonou pelo intelecto do filósofo.

Nietzche vive atormentado pela rejeição e a ebulição intelectual para a época (século 19), com enxaquecas insuportáveis e convulsões.

Lou Salomé (a mulher pela qual o filosofo se apaixonara) procura Breuer para que este cure Nietzche através da técnica terapêutica da fala. Mas sob a condição de que o filósofo não soubesse desse pedido dela e tão achasse que o médico sabia de suas tormentas e impulsos suicidas.

Salomé dava as cartas, é impetuosa, ela diz o que fazer, por onde ir. Ela não marcava horas. Deu a Breuer algumas literaturas de Nietzsche para ele se familiarizar com o mesmo.

Ao primeiro encontro Nietzsche com Breuer deixa claro que a melancolia fazia parte da sua vivência e que as enxaquecas que tem, são as dores do parto, citando aí o seu próximo livro – Assim falava Zaratrusta. Explica ao médico que a temática é um profeta que decide instruir as pessoas, mas que estas se recusam a entender suas palavras. E o profeta percebendo que é demais conhecer, então retorna a sua solidão.

Relata a Breuer que acredita que veio cedo demais ao mundo por isso é incompreendido, e que fases negras transformam-se em desespero.

O filósofo se coloca como um ser uno, indivisível, não precisa de mais ninguém para ajudá-lo, ele mesmo cria alternativas de sustentação para sua saúde, tanto que se refere ao sexo como um prazer bestial, e que tais prazeres gregários não são para ele.

Justifica sua solidão pela traição dos outros, “quebrando” pontes formadas no relacionamento.

Breuer tenta uma aproximação mais amigável a fim de  ajudá-lo, e argumenta que a própria pessoa não pode dissecar a própria psique porque a visão sobre a mesma está embaçada.

Nietzsche exaltado recusa ajuda, mas Breuer barganha e se abre para o filósofo, e propõe uma troca. O médico conta de seus tormentos por uma paixão proibida., já que é casado. Nietzsche relata que não pode curar ninguém, nem ele mesmo, ele só sabe suportar as adversidades.

Então Nietzsche vai para uma clínica longe de Salomé, e após ser consultado diariamente por Breuer, ele inverte os papéis, faz Breuer pensar, refletir as situações, faz imaginar outras tantas.

Breuer mesmo não querendo acaba se rendendo as ordens de Nietzsche e consegue vislumbrar alternativas para esquecer da paciente pela qual se apaixonou, provocando atrito e distanciamento de sua esposa.

A cada conversa com o filósofo, Breuer recorria a seu “discípulo Sigmund Freud, ambos faziam análises das situações, e em determinado momento Breuer declara a Freud que Friedrich conhece a humanidade mais a fundo do que qualquer pessoas, e que poderia ser o maior psicólogo de todos os tempos.

A cada encontro entre o médico e o filósofo havia algo de novo, de surpreende, Nietzsche dizia que não escolher meta, é viver de acidente, logo não ter metas na vida é deixar que a vida seja um acidente.

O filósofo relatava que o tempo de desculpas acabaram , é preciso assumir nossas imperfeições, devemos nos apaixonar mais pelo objeto desejado do que pelo desejo, e que para ficar forte é preciso criar raízes profundas dentro do nada, aprender a encarar sua mais solitária solidão.

Nietzche assim consegue libertar o médico da paixão proibida e vai se tornando amigo do médico, a relação paciente e médico se encerra quando Breuer convida-o para um passeio até o túmulo de sua mãe, e lá chegando Nietzche então compreende o que significa a paixão oculta do médico por uma paciente. Tanto a mãe quando a mulher pela qual Breuer tinha se apaixonado tinham o mesmo nome, e a mãe do médico falecera quando tinha uma idade aproximada da moça.

Nietzsche tenta desmistificar essa paixão de Breuer, fazendo-o imaginar situações grotescas com a tal amada. Breuer percebeu que este era o caminho de esquecer, então pede a Sigmund para hipnotizá-lo e durante a hipnose ele consegue vivenciar todas as situações adversas, os problemas que enfrentaria caso largasse sua família para viver uma paixão.

O filme basicamente é isso, vem mostrar a psicanálise não foi elaborada somente na época de Freud, este teve mérito sim, além de dar nomes as várias fases da vida, das situações e circunstâncias. É possível observar traços psicanalíticos na filosofia de Nietzsche, muito bem apresentada pelo filme, mesmo não tendo o filósofo essa pretensão, pois ele utilizava recursos hoje chamados psicanalíticos para se suportar, para aguentar seus tormentos.

É um filme bom de se ver, eu indico, desde que a pessoa tenha uma pequena noção de quem foi o filósofo, ou ainda aqueles que leram o livro de mesmo nome do filme.

Ouso dizer que o livro é bem melhor por ser mais completo e complexo, mas o filme é marcante com frases de impacto. Já está disponível em bancas e na internet. Infelizmente não foi aos cinemas.

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