“
A conscientização não se dá no campo da imposição, mas da provocação”
Algo
que sempre me incomodou em política são os discursos, não só em período
eleitoral, como na “entre safra”. São discursos piegas movidos por um
irracionalismo exacerbado que chega a ser chato. Pior que isso são as
justificativas para a chatice desses discursos: ‘o povo quer ouvir isso”, “ se
nós não falarmos nada vai mudar”, etc.
A
bem da verdade, a maior parte da
população não quer ouvir sobre política, vão votar porque são obrigados, e reclama
apenas quando precisa de algo e não consegue via poder publico. No
entanto, raramente essas reclamações chegam ás instâncias que responsáveis
pelas tais, ficam nos bancos das praças, nos salões de beleza, na hora do
almoço ou lanche no trabalho, e atualmente nas redes sociais.
Quem
gosta de ler, conversar, debater sobre política geralmente já tem suas
convicções ideológicas, não mudarão por imposição de ideais alheios. Um bom
argumento e muito poder de persuasão é
de extrema necessidade neste caso.
No
entanto, o que observamos é um esforço
inabalável de impor a todos um discurso único. De impor uma (pseudo) ideologia
aos demais. Isto vai contra os princípios democráticos, na sua conceituação
mais superficial, e até da individualidade de cada um, no que se refere ao
poder de escolha.
Impor
um discurso impede o outro de construir
seu próprio conhecimento, e escolher mediante a isto o que ele acredita ser bom
ou não para ele, enquanto Ser participante
de uma coletividade. O que deve acontecer é uma provocação para que o mesmo
desenvolva habilidades, conhecimentos, consciência necessária para seu poder de
decisão, para assumir suas responsabilidades para exercer sua cidadania e
resguardar a democracia.
Por
isso que o discurso piegas e polarizado que se encontra a política (partidária)
brasileira não emplaca, e continuamos a ter
mais pessoas interessadas em
novelas, reality show, futebol,
moda, do que em política.
Acreditar
que sensacionalismos políticos envolvem
a atenção por meio da emoção do eleitor é ledo engano. Políticos ainda não são confundidos com
“artistas”. É preciso lembrar também os vários casos de corrupção acabam por
fazer com que os “não simpatizantes de política”, acabe generalizando
impressões a todos os políticos, então não se insere ai um ou outra pessoa, um
ou outro partido, mas o “mundo político”. Assim esse mundo é considerado como
mentiroso, corrupto, instável, exagerado
e injusto.
Como
defesa disto, acaba-se por confiar somente naquilo que os próprios
sentidos podem confirmar, no caso o prazer. Daí a importância dada por muitos a
temas que para alguns parecem ser
fúteis, não muito importantes, etc. Pois, como diz Luigi Barzini, “somente o prazer é
incorruptível”, haja vista que os nossos sentidos não podem ser sucateados.
Assim
não adianta polarizar um discurso de um lado tentando derrubar uma mídia - que atua não defendendo A ou B, mas aos
próprios interesses – do outro estigmatizar e marginalizar pessoas, pois quem
vai nortear a crença de boa ou ruim, não
é o que dizem da imprensa x ou de fulano, mas
a influência (positiva ou negativa) destes na vida de cada um, e isso se
dá através dos sentidos.
Vejamos
o exemplo de Lula e Rede Globo. De um lado temos esforços colocando que Rede Globo manipula, que temos
que boicotá-la porque mente e tenta marginalizar Lula, mas só acusam disso e
daquilo e não provam a ponto de sensibilizar ninguém disto, este discurso não
convence, e acaba por parecer que quem tenta manipular é quem está falando “mal” da emissora de TV
(rádio, jornal, etc). Isso porque a Rede Globo oferece de certa forma prazer, e
Lula é inabalável, uma vez que
acaba gerando o sentimento
de proteção aos cidadãos de si próprio.
Por mais que afirmem que ele roubou, parrticipou
de esquemas, é corrupto também, o que
fica marcado são as “coisas boas’ que ele proporcionou ao povo, a influência
dele na vida da população. A população não percebe, sente reflexões da
corrupção no seu dia a dia, não compreendem que o sucateamento de serviços
públicos seja reflexo de corrupção, mas
de má gestão local. O sentimento que fica então de Lula é o ‘homem bom” que se
preocupa, que criou programas assistências,
que tirou boa parte da população de um estado de miséria extrema (e fez de
certa forma). Então também não adianta tentar abalar isso buscando marginalizá-lo.
Dessa
forma pode-se afirmar que os
discursos contra o opositor se tornam
vazios, incoerentes dentro da própria proposta, só demonstra desconhecer o
eleitor. E o que é pior, tenta uma "desmanipulação" com manipulação. Criticam a
circunstância real, atual com a mesma
proposta.
Pegando
novamente o discurso sobre a mídia, alguns militantes colocam: “Precisamos de
uma nova mídia, que não manipule, livre”.
Ora o que precisamos realmente são de novos espaços de discussão, de
apresentação de idéias, e isto não significa dizer que precisamos de um novo jornal, uma nova estação
de rádio, um novo canal de TV, uma nova revista, mas criar novos espaços e/ou
instrumentos de divulgação, debates e conscientização, buscando provocar o eleitor
a construir a própria opinião, confrontando ideais, e não reafirmando farsas, ou criando outras.
E quem
vai nortear as novas implementações será a própria população, cada qual no seu
espaço, na sua especificidade. Assim fugimos da uniformização midiática atual e
da tentativa de conscientização de massa por manipulação e imposição de ‘meias verdades”.
Essa
mudança de paradigma acarretará,
consequentemente, a mudança do próprio
comportamento da militância partidária, já que necessitará conhecer o local de abrangência para atuação,
uma maior e melhor interlocução com a população, e reafirmação da própria ideologia, para que
esta possa ser trabalhada em toda a sua totalidade, e não mais a partir das lacunas
deixadas pelos adversários, ou a partir
da ideologia deles.
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