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segunda-feira, 5 de julho de 2010

A espera pode ser sacrifício



Ela estava ali, sentada a beira de um penhasco que dava para o mar, abraçando as pernas junto ao corpo, com um movimento constante de frente pra trás.

O homem se aproximou, perguntou se ela precisava de ajuda, nenhum movimento indicou resposta. Ela permanecia de olhos fechados e no mesmo movimento. Ele intrigado com aquela mulher parecia se concentrar para algo. Sem fazer barulho, levantou-se e se foi.

Durante vários dias repetiu o mesmo caminho e via a moça no mesmo lugar, podia variar o horário que ela estava na mesma posição e movimento. Um dia lhe trouxe uma rosa, ao colocar apoiada em seus joelhos, a moça parou o movimento abriu os olhos, pegou a flor, cheirou-a e segurando com uma das mãos voltou a abraçar as pernas e a balançar o corpo. Agora de olhos abertos, mirando o horizonte.

Para ele era complicado lidar com aquela situação, mas foi aos poucos conseguindo espaços. Quando sentava ao seu lado, ela já relaxava e encostava a cabeça em seu ombro. Quando ele se ia, ela voltava ao eterno balançar, já com a flor murcha e seca nas mãos.

Um dia ele se aproximou e roubou-lhe um beijo, ela então sorriu, e lhe estendeu a mão, levantou-se e deram um passeio por um lindo campo que ficava atrás de onde ela permanecia sentada. O fim do dia chegou, ele se foi, mas a deixou dormindo sob a luz da lua e o brilho das estrelas num confortável banco.

Pela manhã a moça então decidiu explorar o lugar com os próprios pés, os próprios instintos. Andou a esmo, e encontrou a rua, um caminho, viu pessoas, e entre elas o tal rapaz que lhe mostrou o mundo atrás dela, mas ele não estava só, talvez com outra mulher perdida ao lado dele. Talvez ele fosse um orientador e não o caminho.

Ela segurou firma a rosa e voltou ao seu lugar, sentou-se abraçou as pernas, a flor seca ao lado. Olhos fechados e um balançar. Ele chegou se aproximou e viu que não havia sorriso, ela não desejava mais seu ombro, havia uma lágrima, no canto dos olhos dela. Ele se foi e prometeu voltar no dia seguinte.

A tarde caiu e ele não apareceu, assim como o brilho da noite. Ela sentiu uma brisa soprar. Levantou-se, chegou mais próxima ao penhasco, abriu os braços e deixou a brisa tocá-la, a rosa então voou.

Ainda era noite quando ele chegou ofegante, atrapalhado com o transito e trabalho não conseguiu atrasar o brilho do sol para ver aquela moça que já tomava conta de seus pensamentos. Certamente ela deveria ter ido para casa ou outro lugar para dormir. Ele então começou a caminhar a sua procura, o dia já amanheceu quando ele se deu conta que já estava caminhando a horas, que nem percebeu que chegara a praia. Com as calças arregaçadas caminhava na beira d’água, sentia as ondas baterem em seus pés.

Em determinado momento ele sentiu algo arranhar sua perna. Abaixou-se e pegou uma rosa branca, igual a que tinha dado a moça, um fio de sangue escorria em sua perna. Nesse instante não conteve as lágrimas. E percebeu que o amor não pode esperar, e que não pode esperar uma perda para descobrir o que deve ser prioridade na vida.

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