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terça-feira, 19 de maio de 2009

Juiz de Fora em luta antimanicomial?

Descartes certamente está se revirando no túmulo, onde jaz tranquilamente há séculos, e neste último dia dezoito de maio revirou-se no túmulo por reprovação à luta antimanicomial da cidade de Juiz de Fora.

Primeiramente pelo lema escolhido – Sinto, logo existo – romper, se contrapor da forma mais incoerente e ignorante a dualidade cartesiana do respectivo filósofo. Até porque pesquisas e estudos na área da neurociência ainda tenta provar que esta dualidade inexiste. Mas até que se finalizem estudos, tudo se torna especulativo, ou apenas pontos de vista para se partir para estudos mais profundos.

E depois se vislumbrarmos a quebra da dualidade cartesiana frente a quebra de antigos paradigmas que circundam a saúde mental esbarramos novamente na própria dualidade cartesiana, que mostra que apesar do meu corpo são, minha mente não está: o Mundo externo que a luta antimanicomial me apresenta não é o mundo de minha mente.

Descarte ainda reforçou que há coisas fora da mente que podem ser matematicamente determinadas. Exemplifico isto com o tema do evento supracitado. Ora eu sinto, e nem mesmo esse sentir fez sensibilizar profissionais que hoje levantam a bandeira da respectiva luta, fazendo=-me não existir para eles.

Eu senti falta do atendimento, da acolhida da luta antimanicomial, senti falta ( e ainda sinto) da ligação a espera da marcação de uma consulta que já leva quatro anos, de uma vaga no CAPS não só como paciente, mas como profissional, ou um membro da sociedade buscando socializar-me com as pessoas acometidas por transtorno menta grave.

Afinal, para muitos profissionais da luta antimanicomial de Juiz de Fora doença mental são só casos graves de esquizofrenia e dependência química, os demais não sei como denominam, mas certamente, na mente deles não existem

Outro titulo curioso foi da exposição de arte: crio, logo existo. Uma pena que só existem pacientes do CAPS que criam, mesmo com criações de atividades quase que impostas por uma cooperativa, associação, mascaradas de tratamento. Pois a minha criação não foi sequer reconhecida pelos mesmos profissionais que foram às ruas dia dezoito panfletar contra o preconceito.

Logo concluo que só existem aqueles que criam sob a supervisão desses profissionais, pelas atividades por eles coordenadas. Pois o meu pensar e poder de criação foi simplesmente negado e até marginalizado pelos mesmos. Não existo porque penso, mais uma vez contradiz Descartes a luta antimanicomial juiz de forana.

Infelizmente a luta antimanicomial aqui nesta cidade é um engodo, que faz com que números sejam inclusive ocultados de reportagens, pois a Lei que ampara esta luta exclui os transtornos mentais leves, tornando os pacientes acometidos pelos mesmos pessoas não existentes para profissionais dos serviços substitutivos, que por sua vez insistem em ressocializar o paciente advindo de hospitais psiquiátricos apenas com outros pacientes, familiares e profissionais do meio.

Lembram do restante da sociedade apenas em dois momentos: na hora de pedir apoio e na hora de das comemorações. Infelizmente esses momentos não são adequados para socializar, pois há um apelo de vítima muito grande, e a única coisa que pessoa acometida por transtorno não é, é ser vítima de uma doença, mas sim de preconceito, que muitas vezes são impostos pelos próprios profissionais.

Ouso dizer que profissionais da reforma psiquiátrica, ou melhor, alguns que atuam na luta da reforma psiquiátrica, pelo fechamento dos hospitais, na famosa lutam antimanicomial são os maiores precursores do preconceito, haja vista que delimitam quais transtornos devem ser cuidados, esquecem-se do projeto terapêutico e tempo de permanência no tratamento no CAPS, levantam a bandeira para fechar hospital psiquiátrico, mas esquecem de pedir capacitação e melhores condições de atendimento e vagas em hospital geral, medicação suficiente para atender a toda demanda de saúde mental fornecida pelo SUS.

Isso sem falar que se esquecem da integralidade tanto do Ser como no Ser, além da Integralidade como princípio do SUS. Dizem ter pouco CAPS para atender à demanda, mas CAPS não é um tratamento permanente, a longo prazo para ninguém, a atenção básica sim é, logo se um paciente ficar um ano sendo atendido continuamente e não só a nível ambulatorial no CAPS, significa que este serviço está desfocado da sua responsabilidade.

Lutar por mais CAPS sem o apoio de uma atenção básica, a meu ver é lutar por benefício próprio profissionalmente falando, um egocentrismo descarado a quem pensa e estuda o assunto.

Aplaudir que um paciente desenvolva habilidades capazes de fazê-lo cantar, pintar, tricotar, é muito gratificante, mas isto não é socializá-lo, desenvolver autonomia e habilidades, pois como sabemos no Brasil arte é fútil, ou na melhor das hipóteses supérfluo.

Lutam por ajuda de custo para o paciente, mas esquecem que doença mental não é de todo incapacitante, e se perdem quando um paciente diz que não quer nada demais, apenas um lugar ao sol do mercado de trabalho.

Lutam por conscientização, mas iludem aqueles que conseguem uma cadeira universitária com discursos utópicos, falaciosos e surreais.

Falar em saúde mental não é sentir, e tão pouco criar, é apenas pensar, pensar em saúde, pensar na integralidade, pensar em largar as amarras existenciais egocentristas e passar a ver o outro como um Ser pensante, um ser que mesmo que lhe fuja a razão é um ser racional, e não uma coisificação profissional

Bom, encerro aqui mais um devaneio meu, sim talvez se eu falar que seja um delírio eu passa a existir para esses profissionais que se dizem lutadores pelos direitos dos doentes mentais. Pois enquanto penso, para eles eu não existo.

Um comentário:

Unknown disse...

Apenas os membros das famílias que possuem ao menos uma pessoa com sérios problemas mentais sabem o quanto mantê-lo em casa, junto a todos os oturos, pode se tornar um pesadelo.
Gostaria de ter voz alta o bastante para exprimir um grito de "fechar hospitais psiquiátricos? NÃO COMETAM ESSE ERRO!".
Essa falsa luta antimanicomial que o Brasil vive, tocada para frente por gente hipócrita que nunca conversou com um esquizofrênico, pretende apenas dar origem a uma das maiores covardias que pode ocorrer: atropelar a constituição negando um serviço de saúde previsto para gente que oferece não só um risco para a família e sociedade, mas também para si próprio.
Não é falta de amor, não é falta de sentimentos, incapacidade de sentir pena ou qualquer outro adjetivo despresível que se possa pensar, mas sim almas cansadas que pedem um último apelo: ajuda.
Fechar um hospital psiquiátrico (a luta antimanicomial é tão mesquinha e bossal que nem procurou se informar sobre a reforma psiquiátrica e o fim dos manicomios em juiz de fora) pode significar fazer voltar pra casa um pai que espanca as filhas e a mulher.
Sociedade, especialmente do movimento antimanicomial, pense bem se querem carregar nas costas o peso de até mesmo a morte de uma pessoa inocente.