Durante nossa existência passamos por ciclos, muitas vezes nem os percebemos, mas que nos fazem crescer enquanto seres humanos, ou pelo menos nos ensinam a viver errando menos.
Semana passada durante uma internação por conta de uma nefrite (problema físico) eu me peguei pensando exatamente nisso: na transitoriedade do tempo e na transitoriedade dos vínculos.
E por mais que tentemos manter uma continuidade da mesmice, esbarramos no ciclo da vida, e só aí percebemos como evoluímos enquanto pessoas.
Há seis anos quando me encontrava no meu local de trabalhão e me questionava o que eu estava fazendo ali, eu sinceramente não tinha a mínima noção, a única certeza que tinha era que eu não estava fazendo o que eu queria.
Dias depois no mesmo local, só que enquanto paciente, após uma tentativa de suicídio, eu pensava novamente porque eu estava ali, mas o ali não era mais o hospital, mas a própria vida. Colegas de trabalho se revezavam ao meu lado com um olhar, que naquele momento me parecia de pena.
Após vinte quatro horas, sem maiores complicações físicas, recebi a alta médica, apenas com orientações para a fratura que tinha. Da minha mente ninguém cuidou, aliás, cuidou, mas de uma forma diferente, um neuro que foi me avaliar, enquanto evangélico, sentou-se, segurou minha mão e me disse: Não temos o direito de brincar de Deus, somente de ajudá-lo na arte da vida.
Essas palavras no momento era como alguém tentando salvar uma vida, me dando uma vírgula, na minha concepção de forma errada, já que naquele momento Deus era uma incógnita, ou melhor uma dúvida.
O tempo passou, amigos deixaram de fazer contato, colegas, passavam por mim e fingiam apenas que não me reconheciam. O sentimento de exclusão me rebatia como se fosse uma bola de tênis em treinamento com o atleta.
Em uma recente internação inicialmente citada recebi visitas de muitas pessoas, estava novamente no mesmo lugar. E dessa vez eu sabia o que estava fazendo ali: tratando do corpo. O brilho no olhar dos visitantes, os problemas técnicos de estrutura física e organizacional, falhas profissionais, me davam a certeza de que no passado o olhar não era de pena, mas de frustração pessoal de cada um deles, do não saber fazer, do não saber lidar com a situação, afinal mente é muito abstrata. O não encaminhamento a um psiquiatra era a prova mais concreta de que o sistema está despreparado para enfrentar o abstrato, o lado oculto da vida.
Nessa internação retorna a questão dos vínculos, a transitoriedade dos vínculos, não importa o que você é, importa o que você representa ao outro, e é isto que faz com que os vínculos permaneçam ou se desfaçam.
Eu confesso que me surpreendi, pessoas as quais não imaginava ter um vinculo capaz de chegarem e oferecerem o que um paciente, qualquer que seja ele mais necessita: um abraço, é ali que se dá a beleza do afeto, e a certeza de que você existe, e te querem bem, mesmo no seu momento de inutilidade. Aqueles que não foram, não importa, talvez ainda não saibam lidar com a temporalidade do tempo, ou enxergar alguém mesmo no seu momento de inutilidade.
É isso que o neuro chamou de ajudar Deus na arte da vida. Entender os vínculos, entender a temporalidade do tempo, e o que essas temporalidades nos ensinam: a reconhecer os caminhos, as direções, a viver.
Hoje eu sei o que há seis anos olhando pela janela eu estava fazendo ali: aprendendo, eu não poderia chegar nas certezas de hoje, sem as incertezas do ontem.
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